A Segunda Vida da Rolha
As rolhas de cortiça são um produto natural, reciclável e reutilizável. Para aproveitar e conservar este recurso tão valioso, um número crescente de países têm-se esforçado por levar a cabo iniciativas de reciclagem, de forma a consciencializar as populações locais para a riqueza deste material. Apesar da cortiça reciclada jamais ser reutilizada para produzir rolhas para vinhos, existem muitas outras aplicações alternativas possíveis. Por exemplo, quadros de afixação, marcadores, bases para copos, pavimentos, revestimento, componentes para a indústria automóvel, material de isolamento, entre muitos outros.
Em Portugal temos alguns projetos a destacar. Em 2008, arranca o projeto Green Cork desenvolvido pela Quercus em parceria com a Amorim e o Continente. As rolhas são recolhidas nos supermercados e centros comerciais, como o Dolce Vita, e levadas para serem tratadas e trituradas, transformadas em granulados, e voltam a ser matéria-prima para uma segunda vida. A ideia do Green Cork alargou-se a vários países como Espanha, Estados Unidos da América, Canadá, França, Itália, Reino Unido, África do Sul e Austrália.
Iniciativas de reciclagem a nível mundial
PORTUGAL
Green Cork – É um Programa de Reciclagem de Rolhas de Cortiça desenvolvido pela Quercus, em parceria com a Amorim, o Continente, o Dolce Vita, escolas, escuteiros, municípios, empresas de recolha de resíduos, adegas, produtores de vinho e outras entidades. O projeto tem como objetivo, não só a transformação das rolhas usadas noutros produtos, mas também, com o seu esforço de reciclagem, permitir o financiamento de parte do Programa “Floresta Comum”, que visa a plantação de árvores da floresta autóctone portuguesa, entre os quais o sobreiro.
Rolhão – No início de 2005, a Câmara de São Brás de Alportel, no Algarve, lançou uma iniciativa original aos seus munícipes: desafiou-os a colocar a rolha de cortiça num Rolhão. Um recipiente próprio e preparado para o efeito, estrategicamente espalhado por todo o concelho junto dos ecopontos. Ainda antes da criação dos Rolhões, esta autarquia já tinha iniciado a recolha quinzenal de rolhas de cortiça nos cerca de 15 restaurantes da região. Uma iniciativa que tem por objetivo o aproveitamento e reciclagem das rolhas depois de extraídas das garrafas ou garrafões para a posterior manufatura de produtos com fins diversos. Os novos objetos podem ser comercializados, permitindo, assim, a sensibilização para a questão ecológica como forma de proteção do meio ambiente.
Ação Saca-Rolhas – É o nome de um projeto da Associação Guias de Portugal (AGP), lançado em 2005, que visa a recolha de rolhas usadas, recuperando-as para uma nova utilização. Até dezembro de 2012, a AGP tinha recolhido 20.000 kg de rolhas. Este projeto tem uma dupla finalidade: contribuir para a preservação do ambiente, reaproveitando um recurso natural – a cortiça, e colaborar com instituições de solidariedade social, uma vez que o valor que resulta da venda das rolhas para novo aproveitamento reverte a favor de uma destas instituições. Qualquer pessoa pode participar. Basta contactar a AGP e solicitar um “rolhão”, combinando o local e a data para a entrega. Posteriormente, as próprias Guias fazem a substituição do “rolhão” e a recolha das rolhas que tiver juntado.
ESPANHA
“Reciclas cortiça, reciclas vida” – É nome da iniciativa que está a ser desenvolvida em Espanha e que visa a recolha de rolhas de cortiça para posterior utilização em trabalhos manuais por deficientes. A ideia é da Associação ADISANVI, em São Vicente de Alcântara, e está em curso desde Dezembro de 2010.
FRANÇA
Recyclage – A Federação Francesa dos Profissionais da Cortiça montou um esquema de recolha das rolhas de cortiça em várias localidades francesas. As rolhas recolhidas são vendidas às empresas do setor para serem reaproveitadas para outros produtos e o valor da venda reverte a favor de causas humanitárias ou é entregue ao Institut Méditerranéen du Liège para a plantação de novos sobreiros.
EcoBouchon – Iniciativa de recolha e reciclagem de rolhas promovida pela Amorim France e está espalhada um pouco por todo o país.
ITÁLIA
Tappo a chi? – O projeto começou por ser desenvolvido em Florença pela Rilegno (Consórcio para a recolha e reciclagem de embalagens de madeira) e a Quadrifoglio (Serviços ambientais de Florença) que se juntaram para montar um esquema de reciclagem de rolhas de cortiça na região. No entanto, a Rilegno, depois da experiência piloto, avançou com vários consórcios em várias regiões italianas. A Legambiente (Associação Ambientalista Italiana) e a Amorim Cork Italia são também duas entidades envolvidas no projeto.
Etico – O projeto Etico nasceu em Itália, pelas mãos da Amorim Italia, e visa a recolha e reciclagem de rolhas em várias cidades do país, em parceria com um conjunto de associações ligadas a causas diversas. O valor recolhido proveniente da venda destas rolhas é dado à própria associação para usufruto no desenvolvimento da sua atividade.
EUA
ReCORK – É uma iniciativa de recolha e reciclagem de rolhas de cortiça nos EUA e Canadá. O programa ReCORK é patrocinado pela empresa Amorim, em Portugal, pela SOLE, um produtor de calçado e as empresas da Amorim nos EUA – Amorim Cork America e Portocork America. O objetivo é reciclar rolhas e educar e informar o público sobre o papel fundamental das florestas de sobro no combate às alterações climáticas e para a proteção do ecossistema. O ReCORK já recolheu milhões de rolhas usadas. A SOLE, com as rolhas recicladas, desenvolve produtos com esta matéria-prima em substituição do plástico. A recolha está a ser desenvolvida nos retalhistas e restaurantes de toda a América do Norte.
CORK Re-Harvest – A recolher rolhas desde 2008, o movimento Cork Re-Harvest considera-se um dos maiores dos EUA e Canadá. Para além da recolha, o trabalho deste grupo é educar o público sobre os montados de sobro e a biodiversidade, alertando para o perigo de extinção do lince ibérico e da águia imperial ibérica. Por este motivo chamam-se agora Cork Forest Conservation Alliance (CFCA). Desenvolvem, assim, campanhas que vão além da reciclagem no sentido da preservação do montado e do ecossistema. Têm como parceiros o Forest Stewardship Council – FSC, o Instituto Europeu da Floresta – EFI e o Comité Económico e Social das Nações Unidas.
AUSTRÁLIA
Clean Up – Na Austrália, desde 1992 que as rolhas de cortiça tem sido recolhidas e recicladas pelas escuteiras Girl Guides, que angariam todos os anos mais de 30 toneladas de cortiça junto de amigos, hotéis, restaurantes, clubes e adegas.
Os australianos foram encorajados a entregar as rolhas de cortiça usadas num “Clean Up site” local e a colocá-las em sacos de reciclagem de cortiça Guides Australia especiais.
ALEMANHA
Korkampagne – A NABU – Associação Ambientalista Alemã – tem um projeto de reciclagem de rolhas de cortiça implementado em 1000 locais constituídos pelos seus escritórios, escolas e entidades governamentais. Esta iniciativa denominada “Korkampagne” visa a recolha de rolhas de cortiça em Hamburgo e a sua doação a uma das maiores associações para deficientes motores da cidade. Esta associação, que possui uma máquina granuladora, recebe e tritura as rolhas de modo a elaborar outros produtos com cortiça. Cumpre-se um objetivo social, mas a ação permite, ainda, lançar um alerta para a conservação do planeta.
Korken für Kork – A iniciativa é da responsabilidade de uma associação que tem por objetivo transformar as rolhas recolhidas em artefactos de cortiça, denominada Assoziation des Werkstoffs Kork. Fundada em 1991, a associação é conhecida na região por Diakonie Kork. Esta ação de reciclagem tem 3 objetivos focados no âmbito social e ecológico:
Envolver a sociedade local com a associação Diakonie Kork;
Criar postos de trabalho para pessoas portadoras de deficiência;
Contribuir para a redução de resíduos e conservação de um material com elevado valor.
BÉLGICA
Recycork – A iniciativa de recolha e reciclagem de rolhas de cortiça começou há 15 anos, na Bélgica, e sob a responsabilidade da associação Petit Liège. Outras associações seguiram o seu exemplo e a reciclagem chegou a várias cidades. Em 2011, a Petit Liège encerra e a empresa social De Vlaspit resolve dar continuidade ao projeto, profissionalizando a ideia. O produto recolhido é vendido com o nome “Recycork” e podem-se encontrar mais de 900 pontos de recolha das rolhas.